A cidade de Campinas presenciou diversas transformações urbanísticas e arquitetônicas durante o século XX que acompanharam o cenário político e cultural do Brasil. Entre elas estão o forte processo de industrialização, o aumento demográfico na década de 1920, o Plano de Melhoramentos Urbanos e as alterações na estética e estilo arquitetônicos das novas construções da cidade que seguem o movimento da arquitetura moderna. À vista disso, evidenciar e estudar os agentes e grupos envolvidos nos projetos destas construções é de grande relevância para as pesquisas acerca da história de Campinas.

Em meio aos nomes conhecidos de Lix da Cunha, Mario Penteado e Eduardo Badaró, revela-se aqui o do paranaense Sebastião Bueno Mendes (1910 – 1979) formado em Engenharia Geográfica e Engenharia Civil e Eletrônica pela Escola de Engenharia de Juiz de Fora (MG) em 1933 e 1936, respectivamente. Após sua formatura, Mendes mudou-se para Campinas e abriu o então chamado Escritório Técnico de Engenharia de S.B. Mendes que passaria a ser, em 1948, Construtora S.B. Mendes Ltda, tendo como sócio Reinaldo Heinz, contador da empresa. Após a associação de Heinz, contou-se também com os engenheiros civis Carlos Ramasco Gargantini e Carlos André Mendes Gargantini.

A construtora atuava com projetos arquitetônicos, elétricos, de saneamento e estrutura para construção de prédios, residências, fábricas e outros em Campinas e diversas cidades da região como Cosmópolis, Valinhos, Hortolândia, Monte Mor e Sumaré. Também exerciam trabalhos em Embu das Artes, Serra Negra, Jacutinga, Elias Fausto e Águas de Lindóia, onde destaca-se o projeto de aumento e reforma do Grande Hotel do Lago, assim como plantas do planejamento de sua rede de esgoto. Em 2004, Carlos André Mendes Gargantini doou parte dos documentos da empresa ao Centro de Memória – Unicamp (CMU), entre eles plantas, projetos, croquis, desenhos e estudos da construtora de produção entre os anos de 1940 e 1950, em um total de 106 itens documentais.

Os documentos presentes na coleção possuem diversas potencialidades para pesquisa na área de história da cidade, da arquitetura e do urbanismo. Ressaltam-se aqui os projetos do aumento de dependências do Externato Imaculada, atual Instituto Educacional Imaculada, situado na avenida Barão de Itapura e do Edifício Catedral, que se encontra localizado no número 985 da avenida Francisco Glicério até os dias de hoje. O último é exemplar por demonstrar o início do uso misto de prédios na área central de Campinas em meados do século XX, possuindo uso comercial no térreo, cinco pavimentos para escritórios e os dez restantes para habitação. Esta função assinala a transformação econômica e de convívio social da cidade e, dessa forma, nota-se a importância da utilização de projetos como do Edifício Catedral como objeto de estudo para compreender a forma e lógica da urbanização e verticalização de Campinas.

Outro aspecto interessante evidenciado pelo conjunto documental Escritório de Engenharia de S. B. Mendes é o tema das transformações dos modos de morar, destacando-se, por exemplo, o estudo da habitação coletiva e do aumento de número de apartamentos a partir dos projetos de prédios da cidade. Nesse sentido, outra oportunidade de pesquisa é identificar recortes sociais na habitação utilizando os projetos de construção dos “quartos de empregada” em residências, construções geralmente à parte do corpo principal da casa, localizada no fundo do lote e voltada ao trabalhador doméstico

Por outro lado, os projetos de residência popular e das chamadas casas operárias com características da arquitetura moderna demonstram a difusão do estilo para além de prédios ou edificações de grande porte, sendo uma oportunidade de estudo sobre a relação do estilo com a sociedade.

Para além das apresentadas neste texto, o conjunto Escritório de Engenharia de S.B. Mendes conta com expressivas plantas e documentos que estão disponíveis para pesquisa no Centro de Memória – Unicamp.

Este texto foi produzido por Marina Cruz de Albuquerque como fruto das atividades de Estágio Supervisionado do Departamento de História do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas – Unicamp, ministrada pelo Prof. Dr. Aldair Carlos Rodrigues, e realizadas sob supervisão dos técnicos do Centro de Memória-Unicamp.