Sociedade Humanitária Operária (SHO)

A Sociedade Humanitária Operária de Campinas foi fundada no dia 18 de setembro de 1898 e se caracterizava por ser, desde o início, uma associação organizada de caráter mutualista e formada por trabalhadores de diversas categorias profissionais como pintores, serradores, carpinteiros, ajustadores, feitores de carvoeiros, garçons, limpadores, caldeireiros, motoristas, alfaiates, sapateiros, cocheiros, comerciantes, fundidores, ferroviários, pedreiros, soldadores, eletricistas, tecelões, entalhadores, carregadores, o que mostra sua grande capilaridade e aceitação.

Na época de sua formação, a ideia de garantia de direitos à segurança no trabalho ou medidas de seguridade e previdência social eram quase totalmente inexistentes, não havendo aposentadoria, pensão para familiares em caso de morte, férias ou descanso semanal remunerado, indenizações por doenças ou acidentes de trabalho. Além disso, eram frequentes as ameaças de demissão dos operários, a diminuição temporária dos trabalhos, a redução das remunerações sem aviso prévio em períodos de crise econômica, motivo de doença ou ocorrência de epidemias e a exploração da mão-de-obra em condições de grande precarização.

A Sociedade Humanitária tinha como propósito fundamental fornecer o auxílio mútuo entre os operários que pagavam uma taxa de ingresso para se associarem e cediam também o equivalente ao salário de um dia de trabalho, podendo contar com auxílios em caso de doenças, morte (auxílio-funeral) e apoio financeiro às viúvas. A partir de 1920 passou a ter caráter social e cultural. Dentro deste quadro, podemos mensurar a importância das organizações mutualistas e beneficentes na formação da classe operária na cidade de Campinas.

Neste sentido, conhecer a existência e estudar as formas de articulação coletiva desses trabalhadores representa um importante desenvolvimento das pesquisas em história social e na sociologia do trabalho por desempenharem um papel fundamental na compreensão das estratégias de agência de sujeitos que, em outros tempos foram negligenciados nos estudos acadêmicos.

A participação decisiva na luta e na resistência frente a situações de opressão e exploração nos locais de trabalho pode ser percebida e dimensionada no conjunto documental disponível no acervo do CMU (Centro de Memória - Unicamp), possibilitando o contato e o estudo de uma categoria social em pleno desenvolvimento por meio de fontes de variados suportes, como 13 livros de atas de reuniões; livros de matrículas onde constam nome e profissão dos associados; livro caixa em que se pode observar a organização financeira da entidade e registros fotográficos de alguns membros. O conjunto documental abrange um período de 75 anos de história da associação, desde sua fundação em 1898 até o ano de 1973.

É interessante notar também, por meio das fontes, os períodos em que ocorreram maior adesão de trabalhadores na Sociedade Humanitária Operária, que notadamente aumentam de maneira exponencial a partir da década de 1920. Tal ponto nos permite pensar nas mudanças das condições de desenvolvimento da organização e na maneira como os outros trabalhadores percebiam a importância de participar da associação e difundiam esta concepção entre aqueles com quem compartilhavam experiências cotidianamente.

 

Este texto foi produzido por Bruno Milanese Laurenti como fruto das atividades de Estágio Supervisionado do Departamento de História do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas – Unicamp, ministrada pelo Prof. Dr. Aldair Carlos Rodrigues, e realizadas sob supervisão dos técnicos do Centro de Memória-Unicamp.

SHO.00002 - Membros da Sociedade Humanitária.jpg Membros da Sociedade Humanitária. Data não identificada.
SHO_Conjunto_1.jpg Livro de Atas das Assembleias Gerais. Campinas, SP. Entre 21 set 1913 e 21 set 1941.