Província e vanguarda

José Armando Pereira Silva nasceu em Itapira e residiu, ao longo de sua vida, em Santo André e em Campinas, onde cursou Direito na Universidade Católica de Campinas. Contribuiu com diversos periódicos em suas seções voltadas às artes, entre eles os campineiros Correio Popular e Diário do Povo, e em Santo André o News Seller, Diário do Grande ABC e Correio Metropolitano. Foi membro do Conselho Municipal de Cultura de Santo André, e seu mestrado em Teatro, pela Universidade do Rio de Janeiro, teve como tema o Grupo Teatro da Cidade de Santo André.

Província e Vanguarda, publicado em 2000 e financiado pelo Fundo de Cultura do Município de Santo André, tem como objetivo a observação das atividades culturais das cidades de Campinas, Itapira, Limeira, Poços de Caldas e Santo André no período entre 1954 e 1964, ressaltando a forma como as manifestações culturais nessas cidades provincianas se relacionavam com o cenário das artes no geral. Para tanto, utiliza como fontes históricas suas memórias e experiência pessoal no recorte espacial escolhido, associadas a periódicos e revistas da época.

Seu prefácio apresenta Eric Hobsbawm e Walter Benjamin como base teórica, o primeiro abordando o indivíduo como agente histórico, além dos percalços do estudo da História Oral, e o segundo tratando do estudo da história para além dos grandes acontecimentos, como a forma da humanidade se apropriar de seu passado.

A introdução apresenta, de forma sucinta, o contexto político após o suicídio de Getúlio Vargas, em especial o impulso modernizante do governo de Juscelino Kubitscheck e a movimentação geral do país no período até o golpe militar de 1964. A primeira parte, Formações, traz informações sobre o cenário artístico geral em suas diversas formas de manifestação, como a literatura, poesia, cinema, teatro e as artes plásticas de vanguarda. Sua ênfase aparece na relação dessas expressões com a religião e o debate entre a arte popular e arte de vanguarda. A segunda parte, Informações, aborda seu objeto de estudos: os suplementos literários dos jornais, em especial os paulistas. Trata sobre as formas com as quais as seções voltadas às artes eram desenvolvidas, com seus enfoques, abordagens e apresentações.

A terceira e última parte, Expressões, retrata o desenvolvimento e as expressões artísticas nas cidades das quais o autor propõe o estudo. As cidades em questão, com maior ênfase nos municípios de Campinas e Santo André, são consideradas provincianas por estarem fora do eixo Rio-São Paulo, no qual as produções artísticas recebiam maior visibilidade e destaque.

A obra se apresenta como uma interessante contribuição para o conhecimento e divulgação da produção artística e possíveis diálogos entre o que se apresenta nas cidades paulistas em relação à capital. Apesar disso, o livro apresenta sua narrativa baseada nas memórias do escritor associadas a documentos históricos, como jornais, revistas e outros periódicos. Sua análise parte de suas experiências pessoais, o que implica em um recorte restrito, enfatizando certos aspectos, como a relação com a religião ou o recorte espacial e pode excluir outras formas de produção e contato com a arte. Portanto, é necessário uma abordagem crítica do conteúdo do mesmo, sem que isso diminua sua importância.

 

Este texto foi produzido por Ananda Mendes Lima como fruto das atividades de Estágio Supervisionado do Departamento de História do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas – Unicamp, ministrada pelo Prof. Dr. Aldair Carlos Rodrigues, e realizadas sob supervisão dos técnicos do Centro de Memória-Unicamp.